Para o autêntico humanismo a partir do autêntico cristianismo. A perspectiva de santo Tomás de Aquino, doctor humanitatis e doctor communis ecclesiae
Resumo
1. A encarnação de Cristo é a raiz profunda, o fundamento seguro e o ápice último do humanismo cristão. Deus se fez homem. Na encarnação repousa a razão suprema e universal para a nova humanidade, para o que a humanidade é, o que a humanidade deseja ser nos seus mais nobres desejos, e o que ela será. A verdade única sobre o homem revelada por Jesus Cristo – “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) e o “primogênito dentre muitos irmãos” (Rm 8,29) – faz a dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (cfr. Gn 1,26), brilhar em sua inteireza.
2. O Santo Padre, o Papa João Paulo II, frequentemente reconhecido como Defensor hominis, estimou e desenvolveu de modo vigoroso o ensino de Santo Tomás de Aquino no espírito do Concílio Vaticano II (OT, 16, GE, 10). Ele mesmo concedeu ao Doutor Angélico o novo título de Doctor Humanitatis, título acrescentado aos de Doctor Divinitatis e Doctor Communis Ecclesiae. Como filósofo da pessoa, o Papa já demonstrara a sua aproximação filosófica, que era profundamente enraizada na metafísica e antropologia tomistas, da qual se origina a necessidade da ética e da estética. Na encíclica Fides et Ratio (43-45), a novidade perene do pensamento de Santo Tomás de Aquino é oferecida na alvorada do terceiro milênio como um experimentado caminho da filosofia e teologia católicas.
3. Santo Tomás de Aquino demonstrou-nos humanismo como filósofo e ainda mais como teólogo; como homem, como cristão e como religioso. O conceito de “pessoa” na doutrina tomista reflete um dos novos aspectos fundamentais do pensamento cristão. Além disso, ao especificar as relações que existem entre filosofia e teologia, Santo Tomás também forneceu o princípio para a solução do problema do humanismo cristão. Baseando o mistério do homem no actus essendi e reconhecendo a sua capacidade natural de conhecer a verdade, ele aceita o mistério da humanidade integral em sua abertura à transcendência e ao absoluto, no seu ser teológico, capax Dei.
4. No alvorecer do terceiro milênio, se apresenta urgentemente, por si mesma, a necessidade para a promoção do genuíno tomismo, aberto ao diálogo com o mundo e capaz de se comprometer numa discussão com as variadas correntes filosóficas atuais; um tomismo que em sua recta ratio é diretamente nutrido pelo espírito evangélico do Santo Doutor Angélico. O espírito do equilíbrio tomista deve ser promovido numa peregrinação entre os povos da terra e participando da nova evangelização.